Assim como eu, acredito que a grande maioria dos cristãos e não cristãos já tenham passado por um momento de crise de fé ou em alguns meios, tida como crise existencial.
Pensando sobre o assunto, vi a necessidade de procurar na Bíblia algum caso onde ocorreu algo semelhante com alguém e como este alguém reagiu a este problema, onde acabei por me deparar com a história de Asafe.
Quem era Asafe?
Asafe era um judeu da tribo de Levi e músico por vocação. Seus instrumentos preferidos: a harpa, o alaúde e o címbalo, todos muito antigos. Nas suas apresentações usou com mais frequência os címbalos sonoros e os címbalos retumbantes, instrumentos de percussão compostos geralmente de dois discos de metal, que têm no centro uma pequena cavidade para aumentar a sonoridade. Foi designado músico e cantor pelos levitas, que tinham sob sua responsabilidade os serviços religiosos de Jerusalém. Asafe era um homem que tinha uma intimidade com o Pai Celestial e que possuía em sua vida o dom de ministrar louvor como ninguém e esta unção ele recebera na sua vida através do rei Davi, que além de rei era um excelente músico e adorador do Senhor.
Davi deu grande ênfase à música de adoração, como expressão de louvor a Deus. Ele fazia questão de que se levantasse a voz com alegria e reservava a si a supervisão geral de toda atividade litúrgica. Eram 4 mil levitas, que, em 24 turnos, louvavam continuamente o Senhor com instrumentos fabricados por ordem do rei para esse fim. A maior parte era formada de iniciantes, que aprendiam música com os mais competentes. Era uma verdadeira escola de música sacra. Seus filhos faziam parte do corpo docente 288 mestres ao todo. Os filhos de Asafe escreveram doze dos 150 salmos que estão na Bíblia (os onze primeiros do livro terceiro e o salmo 50).
Asafe foi autor de 12 salmos, dentre os quais, o salmo 73 foi o que mais me chamou a atenção.
Diz a história que no dia em que o rei Davi estava trazendo a Arca de volta para Jerusalém para sua cidade de origem,deu uma grande festa, na qual também se encontrava Asafe, que era apenas uma criança na ocasião e que, provavelmente, se deleitava com todos os demais convidados por verem a Arca da Aliança, a qual simbolizava a presença de Deus no meio do povo, tudo isto enquanto o rei Davi vinha à frente dançando na presença de Deus com todas as suas forças e o povo de Israel se alegrava com ele.
Como toda criança, curiosa e em busca de aventura, o pequeno Asafe se embrenhou no meio da multidão por querer algo mais, por que tinha fome e sede por mais de Deus, não se contentando em adorar de longe, mas queria estar o mais perto possível de Deus a quem ele tanto amava.
E diz a história que no meio da festa Asafe fura o bloqueio de guardas que vinha escoltando o rei Davi e a Arca da Aliança e corre na direção de Davi, se jogando nos braços do rei e juntos seguem dançando e celebrando na presença de Deus. Naquele momento Asafe recebe da parte de Deus e por intermédio do rei Davi a unção de adorador e desde aquele dia em diante o seu nome passou a ser literalmente: Deus dele se apoderou!!!
O tempo passou, Asafe cresceu e então Davi decide construir um tabernáculo para colocar a Arca de Deus, um lugar onde presença de Deus estaria para sempre.
Davi convoca os engenheiros e arquitetos mais inteligentes de seu reino, consulta a Natã seu profeta, o qual lhe da todo apoio, convoca o povo para que o mesmo dê cada um uma oferta para a construção do templo e ele mesmo oferece do seu tesouro particular para a construção ouro, prata e pedras preciosas pois como ele mesmo disse: que o palácio que ele queria construir não era para o homem mas para o Senhor Deus, portanto tinha que ser o melhor.
Depois de fazer todos estes planos Davi nomeia os levitas que ministrarão na casa de Deus, e entre tantos ele nomeia o jovem que agora já era um homem, um pai de família para ser o chefe dos levitas ele nomeia Asafe.
Mas as coisas não saíram 100% como Davi havia planejado, Deus não permitiu que Davi construísse o templo, pois ele era um homem sanguinário, e ordenou que Salomão seu filho construísse o templo em seu lugar, Davi não questionou a decisão de Deus e antes de morrer deu a Salomão todas as instruções sobre como deveria ser feita a obra, as plantas, os nomes dos levitas que ele havia escolhido bem como todo ouro e toda prata que seriam gastos na construção.
Davi se foi e seu filho Salomão reinou em seu lugar e anos mais tarde conclui a construção do templo e marcou uma data para a consagração e inauguração, a esta altura Asafe já não era mais um jovem ele era agora um senhor de aproximadamente 65 anos de idade, casado, pai de dois filhos, morava em uma humilde casinha de madeira onde as ruas eram de terra e a vida era precária.
Ele já não ministrava mais louvores a Deus pois em Israel havia um costume de que a certa altura da vida os levitas mais velhos eram aposentados de suas funções, dando espaço para os mais novos, Asafe estava aposentado mas o seu coração ainda ardia pela presença de Deus.
Seu instrumento musical e suas vestes de linho fino estavam guardadas em uma caixa uma espécie de baú, e na madrugada por diversas vezes enquanto todos estavam dormindo aquele velho levita abria a caixa com cuidado para que ninguém acordasse e como num abrir e fechar de olhos ele voltava no tempo e lembrava das vezes em que ele conduzia a multidão festiva, lembrava de como ele ministrava o louvor e de como a glória de Deus era real.
Em uma destas madrugadas cheias de nostalgia Asafe vestiu de novo as suas roupas de linho fino que ele havia ganhado das mãos do próprio rei Davi e tirou a poeira de seu instrumento que ele havia por anos tocado, abriu as janelas de sua casa e começou a adorar com toda as suas forças ao Rei, não cantou nenhuma de suas canções, visto que ele era um compositor excelente, mas cantou uma canção que havia sido composta pelos filhos de Corá, um Salmo que embora não fosse de sua autoria naquele exato momento expressava toda a sua dor e todo clamor que havia na sua alma e ele cantou assim: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?
As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
Faltou pouco para que ele se afasta-se de um Deus sábio, bom e justo, jogando fora tudo o que acreditava e tinha aprendido como tradição religiosa até então acumulada. Esteve bem perto de uma violenta mudança de pensamento e de comportamento. Quase trocou os oráculos de Deus pelo horóscopo. Quase trocou o templo do Senhor por um terreiro de macumba. Quase mandou tudo para o inferno, inclusive sua alma!
Seu problema é que ele passou a ter inveja dos pecadores. Ele dizia: “eu também sou como eles, sujeito aos mesmos sentimentos e paixões. Por uma questão de princípios e pelo temor do Senhor, eu abortava na fonte os desejos pecaminosos”:
Asafe se remoía por dentro ao ver o quanto o ímpio " prosperava " , mesmo sem nenhum temor algum para com Deus , enquanto ele se dedicava diariamente na casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava.
Ele se perguntava: "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face".
Ele mantinha a esperança de que Deus o socorreria e mudaria aquela situação, pois havia aprendido assim, ouvido todo dia isto da boca de seus pais, de seus líderes, mas algo estava mudando dentro dele...
"Ó meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; por isso lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde os hermonitas, desde o pequeno monte".
Seus pensamentos estavam se tornando cada vez mais negativos e sua fé começava a ficar comprometida.
O próprio Asafe escreveu: "Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim".
Ele sabia que se continuasse a pensar daquela forma, corria um sério risco de se tornar um desviado.
Contudo o SENHOR mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a sua canção estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida.
Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo?
Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo dia me dizem: Onde está o teu Deus?
Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” ( Salmos 42:1-11).
As lágrimas rolaram pela face de Asafe, o seu coração estava derramado na presença de Deus e depois de ministrar esta canção ele tirou as suas roupas de festa, guardou seu instrumento e foi para sua cama, se preparando para dormir, mas antes conversando com o Senhor:
Asafe deve ter parado um momento e refletido em oração os seguintes pensamentos:
Senhor, meu Deus...
Quantas vezes desejei me vingar daqueles que eram contra mim?
Quantas vezes fui açoitado pela ira que crescia diariamente no meu coração?
Quantas vezes quis projetar-me, ficar em evidencia a fim de que fosse visto por alguém que visse meu talento e me chamasse para algo grande, para que assim minha vida mudasse?
Quantas vezes fui assaltado pelo egoísmo?
Quantas vezes a falta de pudor e baixa valorização própria da mulher alheia me levou a praticar a lascívia, a desejar fornicar, me prostituir?
Quantas vezes senti desânimo e preguiça por saber ou pensar que sabia que as coisas não mudariam, que estava acreditando em algo irreal, totalmente equivocado do que e quem é o Senhor?
Mas o Seu amor, meu Deus, falou mais alto dentro de mim, fazendo com que eu pudesse guardar meu coração puro, resistindo os maus desígnios e pensamentos, fugindo da aparência do mau...
No dia, seguinte bem cedinho, Asafe foi acordado as gritos pela sua esposa, ele se levantou da cama ainda meio sonolento e sem entender ao certo o que estava acontecendo foi até a sala de sua casa, ainda trajando roupas de dormir e com os olhos inchados e meio abertos, um mensageiro trajando roupas reais veio até a sua casa com uma carta em mãos assinada pelo rei e endereçada para Asafe.
Sem demora o mensageiro se apresenta e diz que foi enviado pelo próprio rei Salomão e entrega nas mãos de Asafe a carta, eles se despedem e então Asafe senta-se junto com sua esposa e seus filhos para lerem a misteriosa carta do rei.
Nela estava escrito assim: “ Querido Asafe, que Deus, o Todo-poderoso o abençoe.
Davi, o meu pai, reinou com integridade, justiça e sabedoria sobre todo o povo de Israel, e acima de tudo ele sempre buscava a presença de Deus pois amava ao Senhor de todo coração e por ser dedicado á Deus sempre teve em sua vida muitas e incontáveis vitórias.
Ele queria construir um templo como você bem sabe, e se empenhou neste projeto com amor e dedicação, fez a planta, arrecadou fundos para a construção e sonhou com o dia em que o seu sonho seria realizado.
Mas Deus desejou que as coisas acontecessem de outra forma e não permitiu que ele construísse esta obra, mas o orientou que o seu filho, Salomão, construísse o templo.
Muitos anos se passaram, meu pai já se foi e a obra como era da vontade de Deus tinha que ser concluída por minhas mãos e sendo obediente a vontade de Deus construir o templo seguindo a risca todas as orientações que meu pai deixou.
A obra está pronta e precisa ser inaugurada logo, pois Deus tem pressa de habitar entre nós.
Por isso venho por meio desta carta lhe fazer um convite muito especial: quero que você Asafe ministre o louvor na inauguração do templo e mais que isso: quero que você seja o regente, o maestro da orquestra de levitas e gostaria de pedir que você componha uma canção especial para a ocasião; uma canção que traga a presença de Deus para junto de nós.
Espero vê-lo na inauguração e sei que posso contar com você.
Atenciosamente: Salomão, filho de Davi, rei de Israel”.
Os olhos de Asafe ficaram completamente molhados, seu coração bateu mais forte do que nunca, sua esposa e filhos choraram de emoção e compartilharam de sua alegria a glória de Deus encheu aquela humilde, porém, especial casa.
Asafe já não era mais um velho levita aposentado e esquecido pelas pessoas ele havia recebido um convite do próprio rei para ministrar na festa mais importante que Israel já havia celebrado.
Deus naquele momento falava ao coração de Asafe que havia ouvido a sua adoração naquela madrugada e que jamais havia lhe esquecido mas que o amava e que contava com ele em seu projeto na face da terra.
Quando o salmista Asafe saiu do templo estava refeito, curado, revivificado, alegre e disposto, e, ao mesmo tempo, solícito e decidido em alimentar-se da verdade, como ensina Davi ainda no salmo 37:3 " Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado"
Toda a mágoa desapareceu!
O ciclo vicioso foi quebrado. Ele percebeu que todos os dias enfrentamos uma luta tremenda e que nem todos estão preparados para enfrentar. Ele sabia que possivelmente teremos de conviver com perseguições, oraremos a Deus pedindo misericórdia, nos arrependeremo e clamaremos, Deus nos enviará o socorro, nos libertará, prosperaremos e ai, em muitos casos, voltaremos a cair novamente. Assim era o ciclo vicioso que o povo de Deus estava vivendo e colhendo daquilo que vinha semeando.
Asafe passou a incentivar o povo de a se lembrar das promessas de Deus. Os inimigos sempre irão se aproveitar de ocasiões em nossa vida para ultrajar o nome de Deus e também o desafiar, não sabendo, estes, que tudo vem do Senhor. Assim, aqueles que seguem pelos caminhos do mau, cavam sua própria ruína e destruição que logo se cumprirá com a execução da justiça e do juízo de Deus.
Ele pode tomar uma posição naquele dia que mudou a sua história!.
A história de Asafe estava apenas começando...
E agora, a sua história está sendo escrita. Hoje é o seu momento de se definir na vida.
Qual é a posição que você vai tomar?
Onde você tem colocado sua esperança?
Você trocaria uma vida na presença de Deus e uma eternidade na glória por prosperidade material na terra e uma eternidade no inferno?
Que história você vai querer escrever?